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Para entender melhor como surgiu o capitalismo, seu principal estudioso, Karl Marx, se debruçou em pesquisas para entender o que aconteceu na Inglaterra pré-capitalista. Marx chamou esse processo de acumulação primitiva de capital. Como as relações de produção pré-capitalistas na Inglaterra eram agrícolas, a única forma de transformar essas relações em capitalistas era através da apropriação da terra pela burguesia, com a total expulsão dos camponeses que lá viviam. E foi isso o que aconteceu: os camponeses foram expropriados, separados da sua terra, e não lhes restou nada mais que não fosse a venda da sua força de trabalho. Se antes os camponeses eram proprietários, agora eram trabalhadores assalariados. E foram esses trabalhadores que serviram de mão de obra para as indústrias que surgiam. O capitalismo invade também o campo, onde os ex-proprietários foram empregados depois como assalariados. Segundo Marx, esse foi o segredo da acumulação primitiva de capital: transformar radicalmente (revolucionar), à força, as relações de produção até então existentes no campo.
Considerando como elemento principal do processo de acumulação primitiva de capital, com todas as mudanças radicais e violentas que ela proporcionou, podemos dizer que o capital prosseguiu em seu processo de acumulação com a multiplicação de centros comerciais existentes nas cidades (burgos), mas também através da expansão do "capital mercantil", com a apropriação da riqueza existente em outras terras do planeta, através das grandes navegações e "descobrimentos". Assim, o processo de acumulação de capital foi se desenvolvendo através do financiamento de corsários e piratas, do tráfico de escravos (principalmente africanos), com o empréstimo de dinheiro a juros por intermédio da organização de instituições bancárias, com o pagamento de salários miseráveis aos artesãos empregados nas manufaturas e vencendo guerras, comerciando e impondo tratados a países fracos.
Depois da indústria, o comércio passou a ser a atividade mais importante da burguesia inglesa. Os comerciantes ingleses e seus navios estavam por toda a parte do mundo. Quanto maior a atividade comercial, maior era a concorrência. Cada mercador inglês queria abater seus concorrentes e, para vencer os competidores, era preciso oferecer produtos mais baratos. Como baixar cada vez mais os custos da produção?
A resposta estava no uso de máquinas. Desse modo, foi a pressão do mercado que levou a burguesia inglesa a aprimorar suas máquinas e a instalar mais indústrias.
Mas a burguesia necessitava de operários para instalar suas indústrias e fazê-las operar. Para encontrá-los era necessário ir ao campo, onde estava a mão de obra.
O aparecimento do capitalismo estimulou os fazendeiros a investir capital na produção agrária. Para desenvolver as áreas de cultivo, ocuparam terras onde habitavam os camponeses e forçaram as famílias a ficar em pequenos territórios cercados. Eram milhares de camponeses e os terrenos eram tão pequenos que os camponeses quase não tinham como continuar a viver ali. A saída foi buscar trabalho e moradia em outro lugar. Assim, as cercas expulsaram as pessoas do campo. Restou ir para as cidades. Para não morrer de fome, eles aceitavam trabalhar por horas e horas nas fábricas, recebendo salários miseráveis.
O desenvolvimento industrial arruinou os artesãos, já que os sapatos e os tecidos eram confeccionados mais rapidamente e de uma maneira mais barata numa fábrica do que nas oficinas dos artesãos, sapateiros ou tecelões. Por isso, os artesãos também tiveram de buscar emprego de operários nas fábricas. Havia, então, uma multidão de homens e mulheres que não conseguiam mais viver por conta própria. Agora era trabalhar para um patrão em troca de um salário. Formou-se, assim, uma nova classe social chamada proletariado.
Fonte: OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016.
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