Morte e vida severina é um dos clássicos da literatura brasileira. O poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999) narrou a questão da terra no Nordeste e a realidade social permeada por uma forte injustiça socioespacial. Leia um trecho de sua obra.
"Assiste ao enterro de um trabalhador de eito e ouve o que dizem do morto os amigos que o levaram ao cemitério
- Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor
que tiraste em vida.
- É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
- Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
- É uma cova grande
para teu pouco defunto.
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
- É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
- É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.
- Viverás, e para sempre,
na terra que aqui aforas:
e terás enfim tua roça.
- Aí ficarás para sempre,
livre do sol e da chuva,
criando tuas saúvas.
- Agora trabalharás
só para ti, não a meias,
como antes em terra alheia.
- Trabalharás uma terra
da qual, além de senhor,
serás homem de eito e trator.
- Trabalhando nessa terra,
tu sozinho tudo espreitas:
serás semente, adubo, colheita.
[...]"
(MELO NETO, J.C. Morte e vida severina: auto de natal pernambucano. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 159-160)
Morte e Vida Severina em Desenho Animado - Completo
Questões de reflexão sobre o poema
1. Quais elementos do poema se relacionam com a realidade agrária brasileira ao longo do século XX e do século XXI?
2. Avalie criticamente os conflitos sociais produzidos pela realidade histórico-geográfica do campo brasileiro e que transparecem nessa obra.
3. João Cabral era apaixonado por literatura de cordel. Você sabe o que é literatura de cordel? Faça uma breve pesquisa, identificando as origens desse gênero textual, alguns autores de destaque e a região brasileira onde predomina.
a) uma demonstração de consciência revolucionária diante da exploração do trabalhador rural.
b) uma convicção exagerada na vida pós-morte.
c) uma consciência resignada diante das condições de trabalho do trabalhador rural.
d) uma proposta de desafio às forças inclementes do capital.
e) uma proposta de parceria com os grandes latifúndios para a harmonia no campo.
Fonte: SILVA, Edilson Adão Cândido da; JÚNIOR, Laercio Furquim. Geografia em rede. São Paulo: FTD, 2016.
RESPOSTAS
1. O latifúndio é citado direta e figurativamente no poema. Há referência à concentração de terras por meio de metáforas que expressam a desigualdade no tamanho das propriedades e a árdua busca por terras para nelas se estabelecer, além de alusões às condições de trabalho no campo.
2. Na história do Brasil há momentos de forte tensão no campo, especialmente a partir dos anos 1940. Espera-se que os alunos considerem que a forte concentração de terras produz conflitos entre os grandes e os pequenos proprietários e que na década de 1980 a questão atingiu maior magnitude. Foram criadas organizações nacionais favoráveis e contrárias à reforma agrária no país, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a União Democrática Ruralista (UDR), respectivamente.
3. Cordel é o nome dado à poesia popular originalmente feita em relatos orais e que posteriormente surgiu em formatos impressos. Apresenta linguagem informal, criativa, bem-humorada, crítica, regionalizada e, frequentemente, utiliza-se de rimas. No Brasil, está concentrada na região Nordeste. Alguns autores de destaque desse gênero de literatura: Patativa do Assaré, Mestre Azulão, Cego Aderaldo, João Martins de Athayde e Leandro Gomes de Barros.
4. c) uma consciência resignada diante das condições de trabalho do trabalhador rural.
Ei véi tu pudia ter postado as resposta para ajudar
ResponderExcluirVou colocar. Obrigada pela sugestão!
Excluirolá poderia responder a questão 2 por favor?
ResponderExcluirOlá Joãozinho! Vou colocar o gabarito. Obrigada pelo retorno!
ExcluirObrigada!!
ResponderExcluirObrigada pelo retorno! Um abraço!
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