7 de julho de 2017

A globalização e seus principais fluxos

Imagem: Pixabay
Os fluxos de globalização não atingem o espaço geográfico por igual, mas principalmente os lugares que recebem maiores investimentos em infraestrutura. Por que isso ocorre? O que diferencia a atual expansão capitalista das etapas anteriores? É o que estudaremos a seguir.
O que é globalização
A globalização é a continuidade do longo processo histórico de mundialização capitalista, que vem ocorrendo desde o início da expansão marítima europeia. Assim, a globalização é o nome que se dá a atual fase de mundialização do capitalismo: ela está para o atual período informacional como o colonialismo esteve para sua etapa comercial e o imperialismo para a industrial e financeira.
A atual expansão capitalista
Atualmente, ao contrário do que ocorreu nas demais etapas do capitalismo, sua expansão não se inicia pela invasão e ocupação territorial. Por exemplo, nas etapas colonialista e imperialista do capitalismo, o controle do território onde seriam explorados os recursos naturais era fundamental.
Com uma ou outra exceção, na era da globalização a expansão capitalista é silenciosa, sutil e ainda mais eficaz. Trata-se de uma "invasão" de mercadorias, capitais, serviços, informações e pessoas. As novas "armas" são a sedução pelo consumo de bens e serviços e a agilidade e eficiência das telecomunicações, dos transportes e do processamento de informações, graças aos satélites de comunicação, à informática, à internet, aos telefones (fixos e celulares), aos aviões, aos supernavios petroleiros e graneleiros e aos trens de alta velocidade.
A "guerra" acontece nas Bolsas de Valores, de mercadorias e de futuros em todos os mercados do mundo e em todos os setores econômicos. As estratégias e táticas são traçadas nas sedes das grandes corporações transnacionais, dos grandes bancos, das corretoras de valores e de outras instituições, e influenciam quase todos os países. Entretanto, muitas vezes as estratégias e táticas dos dirigentes das grandes corporações, principalmente do setor financeiro, se mostraram arriscadas, gananciosas e/ou fraudulentas. Isso ficou evidente na crise econômico-financeira que eclodiu no mercado imobiliário/financeiro norte-americano em 2008.
Fluxo de capitais especulativos e produtivos
A "invasão" mais típica da globalização é a dos capitais especulativos de curto prazo, conhecidos como hot money, que em busca de alta lucratividade no curtíssimo prazo, movimentam-se com grande rapidez pelo sistema financeiro mundial conectado on-line. Com os avanços tecnológicos na informática e nas telecomunicações, o dinheiro tornou-se virtual, isto é, bites exibidos nas telas dos computadores, e passou a circular livremente.
Grande parte desses recursos pertence a milhões de pequenos poupadores espalhados, sobretudo pelos países desenvolvidos, que guardam seu dinheiro num banco ou investem num fundo de pensão, para garantir suas aposentadorias. Essa vultosa soma é transferida de um mercado para outro, de um país para outro, sempre em busca das mais altas taxas de juros dos títulos públicos ou da maior rentabilidade das ações, das moedas, etc. Os administradores desses capitais - como bancos de investimentos e corretoras de valores - em geral não estão interessados em investir na produção, cujo retorno é demorado, mas em especular, isto é, realizar investimentos de curto prazo nos mercados mais rentáveis.
Os capitais especulativos são prejudiciais às economias à medida que, quando algum mercado se torna instável ou menos atraente, os investidores transferem seus recursos rapidamente, e os países onde o dinheiro estava aplicado entram em crise financeira ou veem-na se aprofundar. Isto aconteceu, por exemplo, com o México (1994), os países do Sudeste Asiático (1997), a Rússia (1998), o Brasil (1999), a Argentina (2001) e a Grécia (2010).
Além de investirem em títulos públicos ou em moedas, grande parte dos capitais especulativos, assim como uma parcela dos investimentos produtivos, direciona-se para as Bolsas de Valores e de mercadorias espalhadas pelo mundo, investindo em ações ou mercadorias. Pode-se investir em ações de forma produtiva, esperando que a empresa obtenha lucros para receber dividendos pela valorização: ou investir de forma especulativa, comprando ações na baixa e vendendo-as assim que houver valorização, embolsando a diferença e realizando o lucro financeiro. Pode-se também especular com mercadorias e com moedas.
A circulação dos capitais produtivos é mais lenta porque são investimentos de longo prazo, por isso menos suscetíveis às oscilações repentinas do mercado. Sendo investimentos diretos na produção de bens e serviços ou em infraestrutura, esses capitais são aplicados em determinado território e possuem uma base física (fábrica, usina hidrelétrica, rede de lojas, etc.). Instalam-se em busca de lucros, que podem ser resultantes de custos menores de produção em relação ao país de origem dos investidores, baixos custos de transportes, proximidade dos mercados consumidores e facilidades em driblar barreiras protecionistas.
A expansão das transnacionais

As transnacionais ou multinacionais são empresas que desenvolvem uma estratégia de atuação internacional a partir de uma base nacional, em seu país-sede, que é onde está seu "quartel-general". O governo do país-sede dessas empresas, em geral lhes dá o suporte econômico e político na concorrência internacional. Isso porque, embora grande parte das operações dessas empresas se dê fora do país-sede, as decisões estratégicas, o controle acionário e mesmo a maior parte dos gastos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) permanecem no território do país onde está sua base. Além disso, a maior parte dos lucros obtidos pelas filiais do exterior fica no país-sede, contribuindo para seu enriquecimento.
A maioria das empresas transnacionais está sediada nos países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos. Entretanto, já há muitas transnacionais sediadas em países emergentes.
Algumas transnacionais cresceram tanto que possuem um faturamento maior que o PIB da maioria dos países do mundo, o que lhes assegura muito poder econômico e político. Poder econômico para controlar e manipular mercados visando ao aumento de seus lucros; poder político para interferir nos governos em benefício de seus interesses. Embora as transnacionais gerem empregos, renda e impostos nos Estados onde se instalam, muitas vezes algumas delas desrespeitam as leis que lhes são desfavoráveis e não demonstram preocupação com a saúde pública, a preservação do meio ambiente e as condições de trabalho de seus empregados.
O país emergente que mais está se expandindo pelo mundo, seja comprando empresas nacionais, seja montando novos negócios, é a China. Companhias controladas pelo governo chinês estão comprando empresas privadas no mundo todo. Portanto, a tendência é que cada vez mais empresas transnacionais de países emergentes, sejam privadas, seja, estatais, ganhem espaço no mundo globalizado.
Fluxos da sociedade global
Os fluxos da sociedade global expressam-se pela grande conectividade e deslocamento de capitais, informações e pessoas por todo o planeta.
Fluxos Econômicos
Os fluxos econômicos na sociedade global apresentam-se por meio do deslocamento de capitais, empresas, mercadorias e investimentos. Com os avanços proporcionados no âmbito dos meios de transporte e comunicação, a economia mundializou-se e passou a integrar todas as diferentes partes do mundo, embora de maneira desigual e hierárquica.
Os principais fluxos que acontecem no âmbito atual do Capitalismo Financeiro e Informacional são os de capitais. Todos os dias uma quantidade muito grande de dinheiro circula em todo o mundo na forma de bits de computador, sem, na maioria dos casos, materializar-se totalmente. Na verdade, estima-se que a maior parte de todo o capital existente não se encontre mais na forma de dinheiro impresso.
Os chamados “capitais especulativos” encontram-se no centro desse processo. Muitas vezes, os investidores preferem concentrar-se em títulos, juros de dívidas públicas e privadas, ações e outros para valorização e posterior arrecadação. Com isso, o retorno é mais rápido, embora a ausência de investimentos na produção proporcione uma série de prejuízos em termos internacionais.
A circulação de “capitais produtivos” também é bastante relevante para a economia global. Ela ocorre por meio de investimentos em determinados setores da atividade econômica, tais como fábricas, comércios, lojas etc. Outra forma é o deslocamento das próprias empresas, que migram para países onde os fatores locacionais são mais vantajosos. Em algumas indústrias de empresas multinacionais, a produção é dividida em várias fábricas, cada uma localizada em uma parte do mundo, com a montagem acontecendo em um local igualmente distinto.
Fluxos de Informações
Os principais meios que permitem a difusão dos fluxos de informações são o rádio, a TV, as revistas, jornais e, principalmente, a internet. Em termos de comparação, um acontecimento importante na Europa do século XVIII levava dias ou até meses para ser informado em outros territórios. Atualmente, eventos com a mesma relevância ou até menos importantes são informados em todo o mundo quase que em tempo real.
Com isso, gera-se um acúmulo muito grande de dados e informações sobre os mais diversos elementos e acontecimentos existentes no mundo. Todavia, o acesso a esses sistemas ainda é muito limitado e desigual, de forma que a maior parte desses fluxos obedece a um círculo privilegiado de pessoas.
Fluxo de Pessoas
Por extensão aos avanços tecnológicos provocados ao longo do século XX e início do século XXI, o fluxo internacional de pessoas também vem se intensificando na era da globalização atual. A expansão desse fluxo acontece de duas formas: o turismo e a migração.
O turismo é a atividade do setor terciário que mais vem crescendo no planeta, com milhões de pessoas se deslocando todos os anos sob os mais diferentes interesses. Com isso, as cidades receptoras e também os meios de transporte vão se adequando a essa realidade, o que resulta na modernização de seus respectivos sistemas de recepção, deslocamento e hospedagem, gerando cifras milionárias em termos de lucros e produção de riquezas.
As migrações internacionais também se intensificam no planeta e configuram-se sob muitos aspectos. Muitas migram por razões humanitárias, sociais, econômicas e afetivas, muito embora existam muitas barreiras estabelecidas pelos países para conter esse processo. É muito comum a migração de pessoas de um país para outro (muitas vezes por meios ilegais) em busca de maior geração de renda e oportunidades. 
Os noticiários nos mostram todos os dias o desespero das pessoas refugiadas que fogem das guerras em busca da paz e de uma vida mais digna. Nem sempre as fronteiras são abertas para eles. Cabe aqui uma reflexão sobre os refugiados da Síria e de outros países em guerra.



TEXTOS PARA ANÁLISE



Texto 1 - A empresa multinacional


A esquerda (e a nem tão esquerda assim) costuma falar mal das grandes empresas, retratando-as em documentários como A corporação e Wal-Mart: The High Cost of Low Prices (Wal-Mart: o alto custo dos preços baixos) como entidades gananciosas e impiedosas que colocam o lucro acima de tudo. Muitos exemplos de mau procedimento das grandes empresas se tornaram, com razão, famosos e lendários: a campanha da Nestlé para persuadir as mães do Terceiro Mundo a usar seus produtos em vez de amamentar os filhos; a tentativa de Bechtel de privatizar a água da Bolívia (documentada no filme Thirst (Sede)); a conspiração de meio século das companhias americanas de cigarros para persuadir as pessoas de que não havia provas científicas de que fumar faz mal para a saúde, ainda que as suas próprias pesquisas confirmassem isso (maravilhosamente dramatizada no filme O informante); o desenvolvimento pela Monsanto de sementes que produziam plantas que, por sua vez, produziam sementes que não podiam ser replantadas, forçando assim, os agricultores a comprar novas sementes todos os anos; o enorme vazamento de óleo do superpetroleiro Valdez, a serviço da Exxon, e as tentativas subsequentes da empresa de evitar o pagamento da indenização.
Para muita gente, as grandes empresas multinacionais passaram a simbolizar o que há de errado na globalização; muitos diriam que elas são a principal causa de seus problemas. Essas companhias são mais ricas do que a maioria dos países em desenvolvimento. (...) Essas empresas não são apenas ricas do que a maioria dos países em desenvolvimento. (...) Essas empresas não são apenas ricas, mas também politicamente poderosas. Se um governo decide tributá-las ou regulamentá-las de uma maneira que não lhes agrada, elas ameaçam mudar-se para outro lugar. Há sempre outro país disposto a receber suas receitas tributárias, seus empregos e seus investimentos.

As empresas buscam o lucro e isso significa que ganhar dinheiro é a prioridade máxima delas. As companhias sobrevivem diminuindo, dentro da legalidade, seus custos ao máximo. Elas evitam pagar impostos sempre que possível; algumas economizam no seguro-saúde de seus empregados; muitas tentam limitar os gastos com o saneamento da poluição que provocam. Com frequência, a conta é assumida pelos governos dos países em que atuam.

No entanto, as grandes empresas têm levado os benefícios da globalização aos países em desenvolvimento, ajudando-os a elevar o padrão de vida em grande parte do mundo. Elas possibilitaram que os produtos desses países chegassem aos mercados dos países industriais avançados; a capacidade das empresas modernas de fazer com que os produtores saibam quase que instantaneamente o que os consumidores internacionais querem tem sido muito benéfica para ambos. Elas têm sido os agentes da transferência de tecnologia dos países industriais avançados para os países em desenvolvimento, ajudando a diminuir a diferença de conhecimento de conhecimentos entre os dois grupos. (...) As grandes empresas levaram empregos e crescimento econômico às nações em desenvolvimento e mercadorias baratas de qualidade cada vez melhor para as desenvolvidas, baixando o custo de vida e contribuindo, assim, para uma era de inflação pequena e taxas de juros baixas.
Com as grandes empresas no centro da globalização, elas podem ser acusadas de muitos de seus males, bem como receber crédito por muitos de seus sucessos. Assim, como a questão não é se a globalização em si mesma é boa ou ruim, mas como podemos reformá-la para que funcione melhor, a questão em relação às empresas deveria ser: o que pode ser feito para minimizar seus danos e maximizar sua contribuição para a sociedade? (...)

      (STIGLITZ, Joseph E. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.)

Texto 2 - Mundialização da sociedade de consumo

Há outro componente, mais visível e mais antigo da globalização, que é a presença de mercadorias estrangeiras em quase todos os países. Com a intensificação dos fluxos comerciais, diferentes produtos circulam por uma moderna e intrincada rede de transportes cobrindo grandes extensões da superfície terrestre, sobretudo nos países desenvolvidos e emergentes. Paralelamente, também tem se expandido a prestação de diversos tipos de serviço ao redor do planeta.
Com isso, ocorre uma globalização do consumo: a difusão de uma cultura de massas que se origina, sobretudo, nos Estados Unidos, a nação mais influente do planeta. Essa "invasão" cultural se difunde com as empresas transnacionais e via meios de comunicação mundializados. O American Way of Life ( em português, 'estilo de vida americano) é difundido por:
* anúncios de agências de publicidade;
* filmes de Hollywood e séries produzidas por canais de televisão;
* revistas de negócios; diversas redes de restaurantes fast-food (em inglês 'comida rápida');
* músicas, videoclipes e videogames; esportes.
O inglês é a língua oficial da indústria cultural e dos negócios globalizados, e também o idioma mais utilizado na internet, seguido pelo chinês, cuja participação aumentou por causa do crescimento da renda da população chinesa, a mais numerosa do planeta.
Apesar do poder da indústria cultural dos Estados Unidos, muitos setores, em diversos lugares, resistem. Entretanto, a comida globalizada não provém somente dos Estados Unidos, embora a maioria das grandes redes de restaurantes seja daquele país. O hambúrguer, alimento mais comum dessas redes, incluindo o da maior e mais onipresente delas - o McDonald's - tem origem nos Estados Unidos. Mas também estão sediadas em território norte-americano redes globais de restaurantes fast-food que servem alimentos originários de outros países, como a pizza (Itália) e os tacos e os nachos (México). Esses dados evidenciam que o fast-food é tipicamente americano como processo de produção de alimento - industrializado e padronizado -, mas  não necessariamente como tipo de alimento oferecido.
Foi nos Estados Unidos que começou, com Henry Ford (1863-1947), a produção em série de automóveis. Esse mesmo processo de produção, o fordismo, atingiu outros setores industriais. O fast-food representa a chegada do fordismo ao setor de alimentação.
Em 1986, após manifestação contra a instalação de um restaurante da rede McDonald's em uma praça em Roma (Itália), nascia o movimento slow food, em nítida contraposição ao fast-food e a tudo o que ele representa. Em 1989, em Paris (França) , foi oficialmente constituído o Movimento Internacional Slow Food, sediado na cidade de Bra (Itália) e que hoje tem adeptos em diversos países, incluindo o Brasil. 
Fonte: SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. 2 ed. São Paulo: Scipione. 2014.
https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/fluxos-sociedade-global.htm

9 comentários:

  1. Excelente resumo sobre os fluxos da globalização.

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    1. Muito obrigada pelo retorno! Seja bem-vindo(a) ao blog! Um abraço!

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  2. Parabens Regina Bolico, por esse trabalho maravilhoso

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    1. Fico muito feliz que você tenha gostado do material. Um abraço!

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    2. Olá Regina, tu sabe me informar qual dos fluxos da globalização mais contribuiu para ocorrência de pandemias?

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  3. Olá Regina, tu sabe me informar qual dos fluxos da globalização mais contribuiu para ocorrência de pandemias?

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    1. Gostaria muito de ter essa resposta, mas não tenho. Vamos aguardar que o tempo nos dê uma resposta ao teu questionamento. Grata pela participação!

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Lana de Souza Cavalcanti - Geógrafa