A expansão das cadeias produtivas agroindustriais e o controle do mercado mundial de alimentos por grandes grupos empresariais provocaram uma expressiva transformação: a padronização do cardápio alimentar. É comum encontrar nas prateleiras dos supermercados ou das redes de fast-food os mesmos tipos e marcas de alimentos em diferentes países. Apenas quatro grãos - arroz, milho, trigo e soja - concentram quase a totalidade dos alimentos consumidos pela população mundial.
A padronização alimentar modifica a forma de preparar a comida, empobrece o perfil alimentar da população e compromete os diferentes modos de viver e a preservação da cultura local.
Para que haja soberania alimentar, é preciso valorizar os produtores agrícolas locais, especialmente as famílias e as comunidades rurais de diferentes regiões da Terra que preservaram nas lavouras de subsistência imensa diversidade de culturas alimentares, peculiares em cada região.
São esses trabalhadores rurais, os camponeses, que aprenderam a manter a fertilidade do solo nos sistemas agrícolas de florestas e savanas tropicais, nos cultivos irrigados das regiões desérticas e semidesérticas, na rizicultura dos campos irrigados das regiões tropicais úmidas, nos cultivos associados à criação de animais das regiões temperadas, nas atividades de pastoreio das regiões herbáceas frias ou semidesérticas. Da mesma forma, são os camponeses que estabeleceram laços de vizinhança em mutirões de trabalho ou o consumo de bens e serviços em localidades próximas para a manutenção de ferramentas e suprimentos de produtos não produzidos por eles, favorecendo o mercado local.
Por essas razões, a agropecuária camponesa é considerada uma alternativa ao empobrecimento da dieta alimentar e ao controle absoluto do setor agrícola pelas cadeias agroindustriais, que utilizam cada vez mais as sementes transgênicas. Ao manejarem sistemas agrícolas muito antigos, os camponeses produziram as próprias sementes, chamadas de sementes crioulas, preservando a diversidade genética das plantas agrícolas e de raças e mudas adaptadas a condições ambientais das comunidades locais.
Fonte: TERRA, Lygia; ARAUJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2016.