21 de novembro de 2020

Segregação

A segregação é o estabelecimento de uma fronteira social ou espacial que aumenta as desvantagens de grupos discriminados. É imposta por leis e caracteriza-se como ação política que busca manter a distância indivíduos e grupos considerados inferiores ou indesejáveis. Portanto, é um ato de violência de alguns grupos sobre outros. A segregação é colocada em prática de maneira consciente e institucional, com base em falsas ideias como a superioridade de uma etnia, gênero, classe social ou nacionalidade sobre outras. O exemplo contemporâneo mais significativo de segregação foi o regime do apartheid, que vigorou na África do Sul durante boa parte do século XX.

O apartheid foi a política oficial de segregação racial da África do Sul. Para seus formuladores, tratava-se de desenvolvimento separado dos colonizadores europeus e da população negra nativa. Apesar de já contar com uma legislação segregacionista que criava áreas restritas para negros e brancos e proibia relações afetivas inter-raciais desde o começo do século XX, somente a partir de 1948, com a vitória do Partido Nacional Africâner (formado por descendentes dos colonizadores holandeses que desenvolveram na África do Sul uma cultura específica, com idioma e hábitos próprios), houve a institucionalização do apartheid como projeto nacional.

Mensagem da placa:”Para uso por pessoas brancas. 
Estas instalações públicas e suas facilidades foram reservadas para o uso exclusivo de pessoas brancas” 
Imagem: Domínio Público

"Na vida cotidiana, havia placas para reservar ônibus, restaurantes, bilheterias e até praias para a população branca. Os casamentos mistos e sexo inter-racial eram proibidos. Os negros tinham acesso à educação e à saúde de menor qualidade. Quase todo o território (87%) era reservado aos brancos. Cerca de 3,5 milhões de pessoas foram expulsas à força e os negros foram relegados aos 'townships', cidades-dormitório e 'bantoustans', reservas étnicas. Até 1986, os negros tinham que viajar com uma carteira de identidade que indicava onde podiam ir, arriscando de outra forma à prisão ou multas."

O regime segregacionista sul-africano terminou em 1994, com a eleição de Nelson Mandela, o principal líder da resistência ao apartheid na África do Sul. Mandela esteve preso de agosto de 1962 a fevereiro de 1990 e, ao ser libertado aos 72 anos - em virtude das pressões políticas e sociais exercidas sobre o regime sul-africano por países de todo o mundo -, continuou a luta contra a segregação sofrida pelos negros em seu país. Foi presidente da África do Sul de 1994 a 1999 e comandou a transição do regime do apartheid para uma África do Sul democrática e multirracial.

Na atualidade, apesar do fim do regime de segregação, a crise econômica e a desigualdade social fazem com que a maior parte da população (da qual os negros são maioria absoluta) ainda vive em condições de pobreza e miséria. Dados do relatório da ONU O estado das cidades do mundo 2010 colocam as cidades sul-africanas Johanesburgo, Ekurhulen e Buffalo city como algumas das cidades mais desiguais do mundo.

Imagem: Nelson Mandela (Reprodução)

Imagem : Reprodução
Fonte: 
SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016.
https://radiokuiabue.com/noticia/71077/ha-25-anos-o-apartheid-chegava-ao-fim-na-africa-do-sul
https://www.politize.com.br/nelson-mandela-e-a-luta-contra-o-apartheid/

Estereótipo

Imagem: Reprodução

Caracterização de um indivíduo ou de um grupo social feita com base em generalizações e ideias superficiais que rotulam comportamentos e características. Trata-se de uma imagem simplista, que não corresponde à realidade; entretanto, sua influência sociocultural interfere fortemente no modo pelo qual as identidades sociais são definidas.

Estereótipo é o conceito ou imagem preconcebida, padronizada e generalizada estabelecida pelo senso comum, sem conhecimento profundo, sobre algo ou alguém. É pressuposto ou rótulo social. É usado principalmente para definir e limitar pessoas quanto a aparência (cor da pele, tipo de vestimentas, uso de acessórios, etc.), naturalidade (região ou país de origem) e comportamento (religião, cultura, crença, nível de educação, etc.). Eles interferem, grande parte das vezes inconscientemente, nas relações sociais e podem se expressar, assim como o preconceito, através da ironia, piada, antipatia, humilhação, insultos verbais ou gestuais ou até mesmo reações violentas.

Os meios de comunicação e informação,  têm o grande papel de reforçar (ou desconstruir) os estereótipos. Um exemplo comum é o estereótipo de beleza, que estabelece qualidades físicas consideradas bonitas e atraentes e aqueles que estão fora do padrão estabelecido são considerados feios e desagradáveis. Outros estereótipos: homens não choram, mulheres são mais sentimentais e homens racionais, homens são melhores em matemática, mulheres não são boas no volante...

Muitos estrangeiros têm uma visão estereotipada de que os brasileiros são festeiros, adoram samba e futebol. Realmente existem milhões de pessoas em nosso país que adoram festas, samba e futebol e não há nada de errado com isso. Entretanto, o fato de termos nascido e vivermos no Brasil não determina que os mais de 200 milhões de habitantes tenham os mesmos gostos pessoais.

Foi com o desenvolvimento das sociedades que os estereótipos surgiram e padronizaram diversos aspectos relacionados ao ser humano e suas ações.
Imagem: Visão estereotipada em relação aos países (Reprodução)

Fonte:
SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estereótipo
https://www.todamateria.com.br/estereotipo/
https://www.infoescola.com/sociologia/estereotipo/
https://www.jrmcoaching.com.br/blog/o-que-e-estereotipo-por-que-devemos-evita-los/
https://ainavall.wordpress.com/2017/01/04/sintesis-sobre-los-estereotipos-de-la-sociedad-actual/
http://cyrillocoach.com.br/blog/mulheres-e-carreira-superando-estereotipos/

20 de novembro de 2020

Identidade social

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Produto direto da interação entre o indivíduo e a coletividade, a identidade social é o modo pelo qual os indivíduos se percebem no mundo e definem sua maneira de interferir nele. Se decodificamos o mundo mediante a cultura, é pela identidade social que o classificamos, nos damos conta de sua diversidade e nos posicionamos nas questões do dia a dia. As mudanças ocorridas no mundo nas últimas décadas do século XX modificaram a posição de relativa estabilidade no modo como essa identidade era construída, assim como intensificaram o debate acerca do tema nas Ciências sociais, especialmente na Sociologia.

O processo de construção da identidade social espelha a maneira como se efetiva a relação entre o indivíduo e a coletividade em determinada estrutura social. Para o sociólogo francês Robert Castel, a extensão do assalariamento no século XX possibilitou a construção de uma identidade social de trabalhador assalariado. Nesse contexto, a mediação entre o indivíduo e a sociedade se dá na esfera do trabalho. É pela inserção profissional que ele se constrói como sujeito e estabelece sua relação com a coletividade.

A partir das últimas décadas do século XX, a estrutura social das sociedades capitalistas vem sendo moldada para absorver um novo modelo de indivíduo, que se realiza como cidadão por meio do consumo. Nesse sentido, há um duplo movimento: redução da representatividade e dos direitos sociais e políticos dos indivíduos, que fica evidente principalmente na esfera do trabalho, e a extensão dos direitos ligados ao consumo, com a ampliação da proteção do indivíduo como consumidor.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman critica as novas configurações sociais que determinam os modos de construção da identidade social. O modo fragmentado e volátil como as identidades vêm se desenvolvendo não pode ser visto de forma positiva, pois as condições sólidas de reprodução da vida individual estão sendo substituídas por relações sociais e econômicas que não permitem identidades coletivas perenes, levando os indivíduos à busca de uma referência que nunca poderá ser dada pelo consumo.

Fonte: SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016.

Etnocentrismo

Imagem: Reprodução

A rejeição às práticas culturais (e aos grupos ou indivíduos que as praticam) diferentes das culturas dominantes tem sido uma constante em quase todo o mundo. Nas Ciências Sociais, essa forma de pensar e agir é denominada de etnocentrismo.

O termo "etno" deriva do grego "ethnos" e se refere à etnia, raça, povo, clã. Assim, "etnocentrismo" significa considerar a sua etnia como o centro ou o eixo de tudo, a base que serve de referência ou o ponto de vista de onde se deve olhar e avaliar o mundo ao redor. 

Etnocentrismo é, por definição, a visão de mundo característica de quem considera sua cultura e seu grupo étnico mais importantes que os demais. Essa visão produz uma avaliação arbitrária do outro. Com base em critérios de sua própria cultura, o etnocentrismo julga como atrasados ou sem sentido as práticas e valores culturais de outros povos ou grupos sociais.

 Isso significa dizer que as visões de um determinado grupo - política, econômica e socialmente dominante em uma determinada sociedade - são consideradas como o centro e referência de tudo. Tudo é pensado e sentido através dos valores, modelos e definições segundo o grupo dominante, que seria a própria "representação" da existência humana.

Ao longo da história, os contatos entre povos com diferentes práticas culturais despertaram estranheza, desconfiança e até mesmo rejeição. em muitos casos, as consequências foram devastadoras para as sociedades e culturas militarmente mais frágeis, que não raro tiveram seus valores culturais relegados a uma posição subalterna, quando não extintos. Essa prática persiste até hoje. Atitudes preconceituosas e discriminatórias (machismo, homofobia, xenofobia) derivadas de uma visão etnocêntrica continuam a ocorrer, apesar de serem combatidas por grupos organizados da sociedade civil.


Fonte:
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016.
SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016.
"A atitude do educador diante do mundo deve ser sempre investigativa, questionadora e reflexiva, pois os conhecimentos com os quais ele lida em seu exercício profissional estão em permanente mutação."
Lana de Souza Cavalcanti - Geógrafa