1 de dezembro de 2020

O espaço agrário brasileiro

Desde o início da colonização, as principais atividades econômicas brasileiras estavam ligadas a agropecuária. A cana-de-açúcar ocupou, principalmente o litoral nordestino para a produção do açúcar que era enviado para a Europa. O cultivo do café teve papel essencial na economia e na sociedade brasileiras do século XIX e XX, influindo decisivamente na política e na economia nacionais ao reafirmar o poder do latifúndio agroexportador e das oligarquias.

As grandes lavouras monocultoras foram os pilares da intensa concentração de terras nas mãos de poucas pessoas. Essa desigualdade no acesso à propriedade ainda perdura em nosso país. Em 1850, a implantação da Lei de Terras transformou a terra em mercadoria, tornando-a cara, o que restringiu o acesso a ela. Além disso, declarou públicas as terras não ocupadas, levando às apropriações sem documentação legal. Até hoje ocorrem violentas disputas por essas propriedades.

A concentração fundiária gera problemas sociais e econômicos, como a falta de terras para os trabalhadores rurais, que, sem ter outra forma de subsistência, lutam por seus direitos organizando-se em movimentos pela reforma agrária. Ocorrem ainda, nos dias de hoje, situações de abuso trabalhista na contratação de mão de obra temporária, como a dos boias-frias, que só tem trabalho durante o período das colheitas.

O Brasil apresenta grande extensão territorial, suficiente disponibilidade de recursos hídricos e localiza-se, em sua maior parte, na região tropical. Esses atributos, aliados aos novos recursos tecnológicos, fazem de nosso país um dos maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas do mundo na atualidade. As exportações do país estão apoiadas no agronegócio, setor que ganha cada vez mais importância no cenário nacional e internacional.

Fonte: SILVA, Angela Corrêa da; OLIC, Nelson Bacic; LOZANO, Ruy. Geografia: contextos e redes. São Paulo: Moderna, 2016.

Lei de Terras de 1850

Foi a Lei de Terras, promulgada em 18 de agosto de 1850, que praticamente instituiu a propriedade privada da terra no Brasil. ao determinar que as terras públicas ou ¹devolutas só poderiam ser adquiridas por meio de compra, essa lei limitou o acesso à posse da terra a quem tivesse recursos para satisfazer essa condição.

Ao ser instituída, essa lei transformou a terra em mercadoria no Brasil, e as porções não ocupadas foram declaradas bem público, podendo ser adquiridas apenas por meio de compra.

Como os preços eram elevados - pois o propósito da renda obtida era  financiar a vinda de imigrantes em substituição à mão de obra escrava -, essa medida ratificou a concentração fundiária ao impedir que os escravos libertos, os imigrantes e os pequenos agricultores tivessem acesso à terra. A ausência de títulos de propriedade em grande parte do território nacional deu lugar a posses irregulares e ao processo chamado grilagem.

As terras livres foram compradas por abastados proprietários rurais. Dessa forma, estes garantiram seus privilégios, tendo um grande contingente de trabalhadores vindos dessas populações menos favorecidas.

Ao longo do tempo, essa desigual distribuição de terras acabou gerando conflitos cada vez mais violentos e generalizados entre proprietários e não proprietários. 

1. Devoluta: diz-se de terras não utilizadas para a agricultura, ou seja, terras ociosas.

Fonte:
ALMEIDA, Lúcia Marina; RIGOLIN, Tércio Barbosa. Fronteiras da globalização: o espaço geográfico globalizado. São Paulo: Ática, 2017.
SILVA, Angela Corrêa da; OLIC, Nelson Bacic; LOZANO, Ruy. Geografia: contextos e redes. São Paulo: Moderna, 2016.

Agronegócio

É uma adaptação para o português do verbete em inglês, agribusiness. Refere-se a todo segmento ligado direta e indiretamente à agricultura, como a própria produção, os transportes, o armazenamento, os insumos, as ferramentas e máquinas agrícolas, a tecnologia e o processamento dos gêneros e derivados, que implica um efeito  multiplicador da agricultura e pecuária.

O agronegócio agrupa o conjunto de todas as operações e transações que envolvem ramos especializados do setor industrial que produzem os insumos agrícolas (sementes, adubos, maquinários, combustíveis e equipamentos), as unidades de produção agropecuárias, o processamento industrial dos produtos agropecuários e sua comercialização. Ou seja, reúne todos os elementos que formam a cadeia produtiva de determinado setor agropecuário.

Fonte: 
SILVA, Angela Corrêa da; OLIC, Nelson Bacic; LOZANO, Ruy. Geografia: contextos e redes. São Paulo: Moderna, 2016.
SILVA, Edilson Adão Cândido da; JÚNIOR, Laercio Furquim. Geografia em rede. São Paulo: FTD, 2016.
TERRA, Lygia; ARAUJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2016.

30 de novembro de 2020

Do meio natural ao artificial

Nova York antes da urbanização (gerado por computador) 
Imagem: Reprodução

Ao longo da história, o ser humano foi transformando gradativamente a natureza com o objetivo de garantir a ¹subsistência do grupo social a que pertencia e melhorar suas condições de vida Com isso, o espaço geográfico foi sendo produzido, ficando cada vez mais artificializado. Pela ação do trabalho humano, novas técnicas foram desenvolvidas e gradativamente incorporadas ao território. De um meio natural, as sociedades avançaram para um meio técnico, a partir da Primeira Revolução Industrial.

Um dos pensadores que abordam a relação, no capitalismo, entre ciência e técnica é o filósofo alemão Jürgen Habermas. Ele mostra que, já no final do século XIX, no contexto da Segunda Revolução Industrial, esse sistema econômico começou a mobilizar a ciência para a criação de novas técnicas. No atual momento do capitalismo, em que ocorre uma revolução técnico-científica, ou revolução informacional, a ciência vem sendo ainda mais mobilizada para a criação de técnicas de produção e de circulação cada vez mais eficientes. A incorporação dessas técnicas ao território, com a intenção de aumentar a produtividade econômica e acelerar a circulação por redes que abrangem o espaço nacional, regional e mundial, produziu o que Milton Santos chamou de meio técnico-científico-informacional. Esse conceito busca definir o meio geográfico que dá sustentação à globalização, o atual período de expansão do capitalismo.

Poucas áreas da superfície terrestre ainda não sofreram transformações ²antrópicas, e mesmo aquelas aparentemente intocadas, como muitas no interior da floresta Amazônica ou do continente antártico, o território está delimitado e sujeito à soberania nacional ou a acordos internacionais. Portanto, mesmo em um meio natural, aparentemente intocado, existem relações políticas e econômicas, que nem sempre são visíveis na paisagem. Além disso, no interior da floresta Amazônica (ou de outras florestas tropicais) existem diversas sociedades indígenas, algumas ainda isoladas da sociedade moderna, que embora vivam bastante integradas ao meio natural, causam alguma transformação antrópica, produzindo, dessa forma, seu espaço. 

Para melhor compreender as relações sociedade-sociedade e sociedade-natureza, que estão materializadas no espaço geográfico, é  muito importante estudar seus conceitos-chave (paisagem, lugar, território e região) e as escalas geográficas (local, regional e global).

Os conceitos-chave dão identidade à Geografia como uma ciência humana e, ao mesmo tempo, permitem compreender o mundo sob a ótica dessa disciplina.

1.Subsistência: estado das pessoas ou coisas que subsistem, que se mantêm; existência, permanência.
2. Antrópico: do grego anthropos, "homem", como espécie. Assim, uma transformação antrópica na natureza é provocada pela espécie humana vivendo em sociedade.

Atividades

1. (UNESP) Observe as figuras.


Faça uma análise espaço-temporal da paisagem, identificando as transformações feitas pelo homem. 

2. “O espaço geográfico é fruto de um processo que ocorre ao longo da história das diversas sociedades humanas; dessa forma, representa interesses, técnicas e valores dessas mesmas sociedades, que o constroem segundo suas necessidades. Então, é possível dizer que ele reflete o estágio de desenvolvimento dos meios técnicos de cada sociedade”. (SILVA, A. C. et. al. Geografia contextos e redes 01. 1º ed. São Paulo: Moderna, 2013. p.19).

No trecho acima, observa a noção de espaço geográfico vinculada:
a) ao emprego aleatório de ferramentas desprovidas de seus contextos.
b) à ideia de que a sociedade é o reflexo do meio onde vive e que nele se reproduz.
c) à história da humanidade, limitando esse conceito às justaposições do passado.
d) aos interesses da sociedade, em uma perspectiva totalitária e sem subjetividades.
e) à utilização das técnicas para a produção da sociedade e suas espacialidades.

3. Assinale, a seguir, a alternativa que melhor indica o conceito atual de espaço geográfico:
a) Compreende o substrato superficial onde habitam os seres vivos terrestres.
b) Abrange o meio físico da Terra e suas dinâmicas naturais, tais como o clima, o relevo e a vegetação.
c) É o resultado da interação mediada pelas técnicas entre as práticas humanas e suas sociedades com a superfície terrestre e seus elementos.
d) É tudo aquilo que pode ser contemplado pela visão em um ambiente imediatamente próximo.
e) É o “palco” das práticas sociais, caracterizando-se por ser um receptáculo das ações antrópicas.


Fonte:
MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo: Scipione, 2017.
https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-geografia/exercicios-sobre-espaco-geografico.htm
http://www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=capitulo_1_a_geografia_na_era_da_informacao
https://languages.oup.com/google-dictionary-pt/
"A atitude do educador diante do mundo deve ser sempre investigativa, questionadora e reflexiva, pois os conhecimentos com os quais ele lida em seu exercício profissional estão em permanente mutação."
Lana de Souza Cavalcanti - Geógrafa